É
comum que alguns profissionais de saúde, em razão de trabalharem em emergências
hospitalares, relatem casos de pacientes que deram entrada com fortes sintomas
que sugerem a hipótese de infarto ou outra condição médica semelhante, sendo
que os exames realizados posteriormente, não encontraram evidências de nenhuma
patologia orgânica, ou seja, do ponto de vista médico, esses pacientes possuíam
o seu sistema cardiovascular e pulmonar em perfeitas condições.
O
curioso é que alguns desses pacientes acabam saindo com indicação para consulta
com Psiquiatra e acompanhamento com Psicólogo, ainda que tenham chegado com
sintomas como: taquicardia ou palpitações, sensação de falta de ar, sensações
de asfixia, dor ou desconforto torácico, sensações de formigamento no corpo, calafrios
ou ondas de calor, sudorese (suores por todo o corpo), tremores e um intenso
medo de perder o controle ou morrer. Mas como se explica uma grande sequência
de sintomas corporais, sem que o corpo esteja doente? Ocorre que a suspeita
diagnóstica desses médicos remete à uma patologia de outra ordem.
Trata-se
da conhecida Síndrome do Pânico ou Transtorno de Pânico, como é classificado
pelos manuais de Psiquiatria, a CID-10 e o DSM-V, e está descrito como um surto
abrupto de medo, desencadeando sintomas físicos e cognitivos, estando no grupo
dos transtornos de ansiedade.
O
leitor deve então estar se perguntando, de que maneira uma determinada forma de
medo ou ansiedade pode gerar tamanho sofrimento físico e mental, considerando
que todos nós manifestamos emoções como essas em variados momentos e contextos
de vida, sem que, no entanto, elas atinjam esse grau. Será que todos nós
estamos vulneráveis a um transtorno de ansiedade como o pânico?
Qualquer generalização seria precipitada ao
falar desse tipo de vulnerabilidade, pois temos aí razões muito
individualizadas para o aparecimento do pânico, assim como outros acometimentos
do psiquismo humano, dado as diferenças de personalidade e da história de vida,
construídos e vividos por cada um de maneira singular. Também seria bastante
simplista falar do pânico como se fosse apenas um medo, assim como também o
seria, teorizar sobre a depressão como se fosse simplesmente tristeza.
Não
é tão simples! Isso porque, apesar de se tratar de uma manifestação de medo
intenso, o objeto desse medo é completamente inconsciente para o sujeito,
configurando uma condição de estranheza para este, pois ele não sabe o que teme,
nem tampouco sabe por que teme. Imagine então como seria, num dia qualquer, estar
dormindo, trabalhando, viajando, caminhando na rua ou almoçando com a família,
quando de repente, um intenso terror psicológico lhe acomete, misturado com
inúmeras sensações fisiológicas de mal estar, além da certeza de que vai
enlouquecer ou morrer naquele momento, sem que nenhum motivo externo tenha
contribuído para tal.
Agora
imagine também que esses episódios traumatizantes passam a se tornar
recorrentes de maneira que você nunca saberá quando eles virão, lhe
influenciando a evitar sair à rua ou a qualquer lugar, pois a possibilidade de
ocorrer outro episódio lhe amedronta e você passa a ter medo do medo (
Transtorno de Pânico com Agorafobia).
A
primeira descrição é apenas episódio de pânico, podendo se tornar o transtorno,
a partir do momento que se repete em períodos e causa prejuízo significativo
para o sujeito, no âmbito social, familiar e ocupacional, assim como em outras
áreas de sua vida, podendo derivar dessa condição, outros transtornos de
ansiedade e também, depressão.
Para
a Psicanálise, essa experiência subjetiva é nomeada como Neurose de Angustia e
está além da ansiedade, por se tratar de um temor, o qual surge com a ausência
do seu objeto, no sentido de que as motivações são puramente internas, sem que
o medo seja dirigido para algo.
Apesar de existir uma prescrição médica para o
tratamento medicamentoso em relação aos sintomas somáticos (físicos), é
perfeitamente tratável em sua raiz psicológica das causas, mediante um
acompanhamento psicológico que enfatize a maneira como esse sujeito pensa, simboliza
e vivência os seus desejos, uma vez que os métodos de investigação
psicanalíticos têm demonstrado uma correlação do pânico ou angustia com certa
dificuldade de simbolizar as suas experiências internas em lidar com as
próprias conquistas, que em geral não o entusiasma.
A angústia existe em todos, mas é direcionada para
o crescimento pessoal, sendo desvirtuada quando assume um caráter patológico,
como é percebida no pânico. Desse modo, portanto, é trabalhada na psicoterapia
de orientação analítica, uma estruturação psíquica em relação às maneiras como
esse sujeito angustiado dá significado ao seu modo de ser, sonhar e desejar,
usando a angustia, dessa vez, a seu favor.
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