Todos
conhecem alguém que rouba a cena por ser carismático, engraçado, sorridente e
dono de um senso de humor que cativa todas as pessoas que estão em volta, seja
na escola, no trabalho ou na vizinhança. Essas pessoas nos põem a pensar em
como é possível ser constantemente feliz, apesar de existirem tantos problemas
que desorganizam nossa vida e nossa mente, de maneira que abre-se uma brecha
para que nos comparemos com os ditos “portadores da felicidade”, e
considerarmos a existência humana, um fenômeno desigual nesse aspecto.
Por
outro lado, somos severos e implacáveis críticos do sujeito mau humorado, que
habita todos os ambientes por onde passamos, assim como também estão presentes
nos personagens de filmes, séries, novelas e romances clássicos. Esses
sujeitos, por vezes, são irritadiços, impacientes, intolerantes com certos
erros alheios e não são muito dados a sorrisos e simpatias, haja vista que
estão mergulhados em seus trabalhos intensos e não dispõem de tempo para
atividades triviais. Em relação a esses, a maioria das pessoas se opõem, e com
apenas um olhar, já intui e confessa para um amigo: “meu
santo não bateu”.
Entende-se
que, de fato, o tipo “engraçado” pode ter a personalidade claramente diferente
do tipo “mau humorado” desde que ambos apresentem esses comportamentos em todos
os contextos da vida e por um longo tempo. O que é discutível é a ideia de felicidade
suscitada aqui, implicitamente, pois percebemos diversos comportamentos humanos
e alocamos dentro do quadro A ou do quadro B, no que se refere a maneira como esses
sujeitos percebem o mundo e concebem a ideia de bem estar ou felicidade. Será
que o outro se sente bem ou feliz apenas quando nos apresentam um comportamento
compatível com a nossa ideia de felicidade?
Voltemos
ao tipo “engraçado”. Este não está isento de ser uma pessoa triste e cheia de
sofrimentos emocionais, apesar de manter uma postura de expansividade e
alegria. Num belo dia, esse sujeito, aparentemente feliz, comete suicídio e
todos comentam, aterrorizados, que foi uma surpresa trágica. Isso demonstra o
despreparo de muitas pessoas em perceber com mais profundidade a subjetividade
das pessoas que sofrem no mais descontraído silêncio, assim como também não
estão preparadas para lidar com formas de sofrimento que atingem uma dimensão grave
e estrondosa, como é o caso da Depressão com sintomas corporais e mentais bem
definidos.
Esse
transtorno mental que até 2020 será o mais incapacitante, segundo a Organização
Mundial de Saúde, acomete todas as formas de personalidade, desde os mais
descontraídos até os mais tímidos, embaralhando a forma como vemos a doença e
dificultando o diagnóstico. Afinal de contas, muitos depressivos ainda estão
trabalhando e produzindo, aliás, usando a vida ativa como mecanismo de defesa,
enquanto outros estão prostrados numa cama, com medo de sair de casa e
mergulhado num imenso vazio. Frases como: “você precisa ter mais força de
vontade” ou “você não tem motivos para estar assim”, ditas por pessoas próximas,
não ajudam e pode gerar consequências piores para o quadro depressivo daquele
sujeito.
Encarar
o sofrimento psicológico dos que tem depressão como algo incapacitante, ainda é
difícil para a maioria das pessoas que acreditam na dualidade mente-corpo, e
que somente o corpo fica doente. Isso não é verdade! É preciso entender que existe
tratamento para essa forma de sofrimento psíquico, uma vez que o sujeito já não
é capaz de se restabelecer sozinho, assim como, também é preciso entender que,
assim como julga-se muito mal a felicidade das pessoas pelo comportamento que
elas apresentam, igualmente julga-se mal os que sofrem com depressão.
Apesar
de ser a tristeza, o primeiro aspecto que aparece nos quadros de depressão,
muitas vezes ela se encontra mascarada em outros comportamentos. Portanto, o
deprimido não é o alegre nem o triste, tampouco é o tímido ou o extrovertido; antes
é o que observa a vida sem significado e vive por viver, buscando as mais
variadas formas de lidar com a própria existência. Muitas vezes, a dor que
acompanha o sujeito não é suficientemente forte para derrubá-lo numa vala
psiquiátrica, mas sustentam uma represa que pode arrebentar diante das mais
imprevisíveis circunstâncias. Ao primeiro olhar, escute-o!
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